Por Martha Medeiros*
Peguei emprestada a expressão que o Verissimo usa para apresentar seus poemas. É que eu quero falar justamente sobre poesia, um assunto que me parece emergencial, apesar de que tudo leva a crer que não é o momento. Gente morrendo por causa da gripe H1Nl, o Sarney insistindo no "daqui não saio, daqui ninguém me tira" e psicóloga se dedicando a "curar" gays, francamente: poesia numa hora dessas?
É que estive no Rio duas semanas atrás e, além do divertido e caloroso encontro com os leitores aqui da revista para comemorar os cinco anos desta publicação, participei também de um recital poético organizado pela escritora. e atriz Elisa Lucinda em sua Casa Poema. A Casa Poema nada mais é do que uma utopia levada a cabo. Elisa mantém uma casa antiga em Botafogo onde ela ensina pessoas a ler poesia, dizer poesia (o verbo "declamar" é proibido) e gostar de poesia. Promove bate-papos com escritores, faz audições públicas da obra de inúmeros autores brasileiros, abre espaço para pequenas apresentações e para sessões de autógrafos, tudo de forma muito afetiva e sem luxo. Só pelos serviços prestados, a Casa Poema deveria ser tombada pelo Patrimônio Histórico. E Elisa deveria ser tombada junto, porque o que ela faz é suprir uma carência dos nossos currículos escolares: ela educa para a sensibilidade e os sentidos.
Elisa me deu de presente o livro que transcreve o encontro que ela teve na mesma Casa Poema com o escritor Rubem Alves. Corra e adquira o seu, foi lançado pela editora 7 Mares. Nesse livro, Elisa e Rubem discutem sobre o desserviço que é obrigar uma criança a ler um livro de que não gosta, sobre o poder que a arte tem de transfigurar maus destinos, sobre o quanto a poesia pode ensinar tudo (geografia, história, matemática) e como não há jeito de se reter conhecimento se não houver emoção. E eles vão mais longe: acusam os professores que empurram livros goela abaixo de seus alunos sem eles mesmos estarem "tomados" pela beleza e importância do que estão recomendando, e aí, lógico, não conseguem ensinar o prazer da leitura. Aliás, é bom lembrar que encantamento deve começar em casa. Não é à toa que as crianças que ouviram seus pais contando histórias são as que, quando adultas, mais se sentem atraídas pelo universo mágico da literatura.
Escutar um poema. Falar um poema em voz alta. Perceber seu ritmo, sua música, sua comunicabilidade. Elisa Lucinda tem o talento de transformar qualquer verso em algo fácil e acessível. Ela prova por a + b que poesia não precisa ser um troço chato. Quando uma amiga lhe telefona contando sobre uma dor íntima, Elisa saca na hora um poema para ajudá-la a entender melhor o que está sentindo. Elisa é uma outra espécie de doutora: prescreve poesia. Um Tamiflu emocional que ela distribui generosamente.
Mas poesia logo agora que a bruxa está solta no espaço aéreo, que há censura aos veículos de comunicação na Venezuela (e, em alguns casos, aqui também) e que os políticos estão perdendo as estribeiras e deixando caírem suas. máscaras em plenário?
Pois é, me pareceu um momento oportuno.
Email: martha.medeiros@oglobo.com.br
Peguei emprestada a expressão que o Verissimo usa para apresentar seus poemas. É que eu quero falar justamente sobre poesia, um assunto que me parece emergencial, apesar de que tudo leva a crer que não é o momento. Gente morrendo por causa da gripe H1Nl, o Sarney insistindo no "daqui não saio, daqui ninguém me tira" e psicóloga se dedicando a "curar" gays, francamente: poesia numa hora dessas?
É que estive no Rio duas semanas atrás e, além do divertido e caloroso encontro com os leitores aqui da revista para comemorar os cinco anos desta publicação, participei também de um recital poético organizado pela escritora. e atriz Elisa Lucinda em sua Casa Poema. A Casa Poema nada mais é do que uma utopia levada a cabo. Elisa mantém uma casa antiga em Botafogo onde ela ensina pessoas a ler poesia, dizer poesia (o verbo "declamar" é proibido) e gostar de poesia. Promove bate-papos com escritores, faz audições públicas da obra de inúmeros autores brasileiros, abre espaço para pequenas apresentações e para sessões de autógrafos, tudo de forma muito afetiva e sem luxo. Só pelos serviços prestados, a Casa Poema deveria ser tombada pelo Patrimônio Histórico. E Elisa deveria ser tombada junto, porque o que ela faz é suprir uma carência dos nossos currículos escolares: ela educa para a sensibilidade e os sentidos.
Elisa me deu de presente o livro que transcreve o encontro que ela teve na mesma Casa Poema com o escritor Rubem Alves. Corra e adquira o seu, foi lançado pela editora 7 Mares. Nesse livro, Elisa e Rubem discutem sobre o desserviço que é obrigar uma criança a ler um livro de que não gosta, sobre o poder que a arte tem de transfigurar maus destinos, sobre o quanto a poesia pode ensinar tudo (geografia, história, matemática) e como não há jeito de se reter conhecimento se não houver emoção. E eles vão mais longe: acusam os professores que empurram livros goela abaixo de seus alunos sem eles mesmos estarem "tomados" pela beleza e importância do que estão recomendando, e aí, lógico, não conseguem ensinar o prazer da leitura. Aliás, é bom lembrar que encantamento deve começar em casa. Não é à toa que as crianças que ouviram seus pais contando histórias são as que, quando adultas, mais se sentem atraídas pelo universo mágico da literatura.
Escutar um poema. Falar um poema em voz alta. Perceber seu ritmo, sua música, sua comunicabilidade. Elisa Lucinda tem o talento de transformar qualquer verso em algo fácil e acessível. Ela prova por a + b que poesia não precisa ser um troço chato. Quando uma amiga lhe telefona contando sobre uma dor íntima, Elisa saca na hora um poema para ajudá-la a entender melhor o que está sentindo. Elisa é uma outra espécie de doutora: prescreve poesia. Um Tamiflu emocional que ela distribui generosamente.
Mas poesia logo agora que a bruxa está solta no espaço aéreo, que há censura aos veículos de comunicação na Venezuela (e, em alguns casos, aqui também) e que os políticos estão perdendo as estribeiras e deixando caírem suas. máscaras em plenário?
Pois é, me pareceu um momento oportuno.
Email: martha.medeiros@oglobo.com.br
1 comentários:
Sem poesia o homem primitivo nao teria evoluido - a poética é tao velha quanto ele, e o que ai se escreveu é exatamente isso. Quando nos afastamos da poesia - que veio depois ou junto conosco - estamos-nos afastando do lado humqano do homem e da mulher verbal. O poeta nao serve, ele seduz, cativa, abre sorrisos, desperta sentimentos, cura pela palavra ritmada, pela maneira de brincar com elas dizendo o que de outra forma poderia ser muito mais duro; poe enfim, corolas sobre pedras e descreve pedras como se fossem flores. Obrigada pelo texto, gostei muito. sE E SEU, MARTHA mEDEIROS, ESTAS coM uMA NOVA LEITORA . Abraçao
Roselis BATISTAR , de Reims, onde moro, aqui na França super fria neste dezembro.
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O amor de todo mundo Para mudar o mundo.... (Ítalo Rovere) Abraços Poéticos